“Um afroempreendedor que consegue fazer o próprio negócio crescer mostra que há um mundo de possibilidades para outros negros e acaba ganhando, querendo ou não, a responsabilidade de abrir espaço para seus pares, diminuindo essa desigualdade”, afirmou, José Soares, analista do Sebrae.
Dados levantados pela pesquisa A Voz e a Vez – Diversidade no Mercado de Consumo e Empreendedorismo apontam que cidadãos negros movimentam uma renda própria de R$ 1,7 trilhão por ano, representando 54% da população brasileira, 14 milhões destes são empreendedores aproximadamente, assim, 29% da população negra. A pesquisa foi realizada pelo Instituto Locomotiva com apoio do Itaú a pedido do Instituto Feira Preta.
A ideia do texto dessa semana fica por conta de inspirar a todos com histórias de pessoas incríveis que acreditam no seu potencial e no potencial de quem adota a diferença e que sabem o poder da mudança, então, pra isso vamos mostrar alguns dos empreendedores de sucesso, negros que mantem a centelha acesa para toda a sociedade.
Nina Silva
Essa é uma das pessoas que se fossemos escrever toda sua história, ela com certeza ocuparia todo o texto, com uma história de vida incrível.
“Eu vejo a tecnologia muito voltada para humanos, muito voltada ao entendimento do que são as pessoas, do que são as necessidades das pessoas, e como que a gente pode melhorar a vida delas a partir da tecnologia.”
Nina, apesar de trabalhar com tecnologia da informação há 17 anos, na época do vestibular queria cursar direito, “Achava que eu tinha que ser juíza, que eu ia trazer a justiça para o mundo”.
Com incentivo da irmã que já a via como uma líder em potencial, acabou entrando em administração na Universidade Federal Fluminense, onde estudou de 2000 a 2004. Já no segundo ano de faculdade começou a trabalhar em uma empresa onde teve o primeiro contato real com o universo da tecnologia. No início de sua carreira na tecnologia as dificuldades foram muitas, disse a mesma, que nesse começo não sabia muito bem o que era realmente um comentário sobre seu trabalho e o que era sexismo ou até mesmo racismo; sempre perfeccionista com todas as coisas que fazia, pois, a todo momento ela tinha que se provar capaz. Em 2013, Nina, no auge de sua carreira, gerente de sistemas e ganhando muito bem teve um Burnout, naquele momento ela resolveu largar tudo que havia construído até ali e foi passar um ano fora do país, assim gastou todo o dinheiro guardado até então, apesar de tudo, quando Nina voltou, pôde perceber que não precisava trabalhar com tecnologia só por uma carreira de status, “Foi quando eu voltei a buscar propósito dentro da minha carreira, dentro das minhas atividades. Hoje, minha maior dificuldade é entender que é uma escolha, e essa escolha me traz frutos muito maiores, muito mais benéficos que as coisas que eu tive que abrir mão”, afirma.
A partir desse momento, foi quando Nina se aproximou da pessoa que é hoje, engajada com a luta pela diversidade e orgulhosa de tudo que passou. Ela, além de atuar na área de TI, se orgulha de ser membro honorário da Academia de Letras de Araçariguama e região, após o Burnout ela se reaproximou da literatura e se tornou escritora. Nina também é uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo e socio-fundadora do movimento Black Money, movimento esse que visa estimular o desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor.
Adriana Ribeiro
Fundadora do salão Afro & Cia Ponto Chic, Adriana teve o contato com o mundo do empreendedorismo bem cedo, com influência da mãe.
“Desde pequena, acompanhava a minha mãe, que é cabeleireira, nos salões em que ela trabalhou, sempre prestando atenção a tudo. Foi a partir dessas vivências que adquiri o interesse pelo universo de beleza”
Seu primeiro negócio foi um salão Madriafro na garagem de sua mãe, tinha apenas 17 anos e foi tudo com a ajuda de sua irmã, desde então não parou. Hoje o público alvo de seu salão são mulheres negras que desejam voltar seus fios a forma natural, passando assim, por um processo de transição, além disso, Adriana ressalta a importância de contratar funcionários negros, divulgando com muita felicidade, que a maioria de seus colaboradores são negros.
Neil Phillips
O mundo está cheio de pessoas incríveis, que impactam o mundo com ideias inovadoras e extraordinárias, um desses é Neil Phillips, fundador e diretor executivo da Visible men, inc. Formado na Universidade de Harvard em literatura inglesa e americana, teve uma carreira ilustre como atleta, educador, treinador e empreendedor, com a Visible Men ele impacta diretamente meninos negros nos EUA os elevando a novos patamares de conquista, realização e contribuição social, introduzindo-os no estudo de homens negros contemporâneos, a agência, através de um currículo de sucesso exclusivo repassa ideias e inspiração de modelos masculinos negros aos garotos em idade escolar.
“Há muito, muito para dar certo. Passamos muito tempo imersos em desafios. Quando recuamos, estamos muito, muito satisfeitos. Temos essa escola cheia de crianças que são tão inteligentes; há risadas o tempo todo e muita energia. “
O racismo estrutural está inserido na sociedade de forma sutil, porém, devemos tomar iniciativas para fazer a diferença em tais circunstâncias, vivemos em um tempo onde juntos podemos mais e podemos realmente fazer a diferença, hábitos e práticas que promovem mesmo que de forma indireta a segregação ou o preconceito racial devem ser rejeitadas e tratadas da forma correta. Não devemos de forma alguma nos omitir nessas condições, devemos fazer a nossa parte para que a mudança exista de fato, racismo é crime!
Mais uma vez vale a reflexão: “Eu sou mesmo antirracista?”